segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Textos de apoio

Atenção: amanhã faremos a 1ª e 2ª parte do teste:
1ª parte: 4 questões de interpretação sobre um poema da mensagem
              1 questão comentário, de 70 a 120 palavras (sobre a Mensagem, simbologia, sebastianismo....)

2ª parte uma composição/reflexão subordinada a tema de âmbito cultural, geral .... tendo por base uma citação.

Dia 4 de fevereiro: 3ª parte sobre gramática - orações coordenadas, subordinadas, sentido e coesão do texto, funções sintácticas...., como nos exemplos vistos.

O Manual tem os textos considerados suficientes. Quem quiser ler estes, pode.
Sebastianismo
As controvérsias sobre o Sebastianismo de Pessoa deixam sempre no grande público, e também, afinal no que, por oposição, teríamos que chamar «pequeno público» dos entendidos, a vaga impressão de que nesse campo teremos que admitir, sem discutir, as convicções que às vezes parecem de louco ou megalómano, e não são do domínio do racional. Como essa de acreditar que o Encoberto, o Desejado, o que traria para o Império Português a sua nova Idade de Ouro era, nem mais nem menos do que ele, Fernando Pessoa. Mas temos que nos lembrar que a vinda do Encoberto era apenas por ele encarada «no seu alto sentido simbólico» e não literal, como faziam os Sebastianistas tradicionais, de quem toma distância, e que esse Desejado não seria mais do que um «estimulador de almas». E que, mesmo assim, como ouvimos afirmar, apenas podia «compellir cada alma a, de facto, operar a sua própria salvação». Se tudo isto entendermos, sem esquecer que o Quinto Império era afinal «o Império Português, subordinado ao espírito definido pela língua portuguesa», não obedecendo nem «a fórmula política nem ideia religiosa», e que «Portugal, neste caso, quer dizer o Brasil» também perceberemos que o projecto de Pessoa era desmesurado, sim mas louco, não.

Teresa Rita Lopes. Pessoa Inédito. Fernando Pessoa. Lisboa: Livros Horizonte, 1993, pp. 33-34.


É evidente que Pessoa não inventou o Sebastianismo, encontrou-o na tradição portuguesa; mas, ao adoptá-lo, aprofundou-o e transfigurou-o. Sobretudo, uniu-o de uma forma pessoal ao outro grande mito tradicional português, o do Quinto Império. A ideia do Quinto Império vem de muito longe na mitologia judaico-cristã. Todos concordam em ver a sua origem no sonho de Nabucodonosor, contado no Livro de Daniel. O rei vê em sonhos uma estátua de dimensões prodigiosas: a cabeça é de ouro, o peito de prata, o ventre de bronze e os pés de barro misturado com ferro. De súbito, uma pedra bate no barro, o que faz com que toda a estátua venha abaixo; e a pedra transforma-se numa alta montanha que cobre a terra inteira. Daniel interpreta assim o sonho: o ouro representa o império da Babilónia, e a prata, o bronze e o barro misturado com o ferro significam os outros três impérios que irão suceder-lhe. Esses quatro impérios serão destruídos. A pedra que se transforma em montanha profetiza a vinda de um Quinto Império universal, que não terá fim. (...)
Para Pessoa, os quatro primeiros impérios já não são os da tradição, mas os quatro grandes momentos da civilização ocidental: a Grécia, a Roma antiga, o Cristianismo, a Europa do Renascimento e das Luzes. Já não se fala da Assíria nem da Pérsia, nem, aliás, do Egipto ou da China: o mundo é europeu. Mas, sobretudo, quando fala do Império vindouro, já não se trata de todo do exercício de um poder temporal, nem sequer espiritual, mas da irradiação do espírito universal, reflectido nas obras dos poetas e dos artistas. Ele condena a força armada, a conquista, a colonização, a evangelização, todas as formas de poder. O Quinto Império será «cultural», ou não será. E se diz, como Vieira, que o Império será português, isso significa que Portugal desempenhará um papel determinante na difusão dessa ideia apolínea e órfica do homem que toda a sua obra proclama. Um português como ele, homem sem qualidades, infinitamente aberto, menos marcado que os outros, tem mais vocação para a universalidade. Seguindo uma "filosofia ocultista e simbolista", não há dúvidas de que acreditou que aquilo a que chama metaforicamente o Quinto Império se realizaria por ele e nele; é o sentido de um texto de 1925, em que afirma que «a segunda vinda» de D. Sebastião já se verificou, cumprindo a profecia do Bandarra, em 1888, data que marca «o início do reino do sol».

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

COORDENAÇÃO SUBORDINAÇÃO

 

Conjunções e locuções conjuncionais Coordenativas

São palavras ou expressões invariáveis que sevem para ligar frases/orações

Copulativas: e, nem, não só... ... mas também

Adversativas: mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto

Disjuntivas: ou, ou...ou, ora...ora, quer...quer, seja...seja, nem...nem

Conclusivas: logo, pois, portanto, por conseguinte, por isso, assim

Veja-se Caderno de actividades PP 23-24

COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO: DUAS FORMAS DE LIGAR ORAÇÕES
A frase simples é constituída por uma única oração, um único verbo conjugado

Exemplo:
Assim gemia o magnânimo Ulisses, à beira do mar lustroso...
A frase complexa é constituída por duas ou mais orações.

Exemplo:
Através da vaga, fugiu e trepou sofregamente à jangada, soltou a vela, fendeu o mar, pois partiu para os trabalhos, para as tormentas, para as misérias — para a delícia das coisas imperfeitas!

Este período é constituído por 5 orações. Vamos dividi-las:

- Através da vaga, fugiu
- e trepou sofregamente à jangada, - coordenada copulativa sindética
- soltou a vela, - coordenada copulativa assindética (não se usa conjunção)
- fendeu o mar, - coordenada copulativa assindética
- pois partiu para os trabalhos, para as tormentas, para as misérias — para a delícia das coisas imperfeitas! - coordenada copulativa conclusiva

Coordenação
As orações, embora ligadas, podem manter-se independentes. Nesse caso, existe entre elas uma relação de coordenação, isto é ligação.

A coordenação pode ser sindética, isto é, com a conjunção expressa:

O Tiago foi ao Parque das nações e visitou o Oceaanário e divertiu-se imenso.
Decomposição:
O Tiago foi ao Parque das Nações.
O Tiago visitou o Oceanário.
A coordenação pode ser assindética, isto é, sem a conjunção expressa:

O Tiago foi ao Parque das Nações, visitou o Oceanário, divertiu-se à grande.


Orações coordenadas


Copulativas
Exemplo: • Calipso, a deusa radiosa, o recolhera e o amara.

• Adversativas
Exemplo: • Dez anos antes, também desconhecia a sorte de Ítaca e dos seres preciosos que lá deixara em solidão e fragilidade; mas uma empresa heróica o agitava;

Disjuntivas
Exemplo: • Em oito anos, ó deusa, nunca a tua face rebrilhou com uma alegria, nem dos teus verdes olhos rolou uma lágrima, nem bateste o pé com irada impaciência, nem, gemendo com uma dor, te estendeste no leito macio...

Neste caso a conjunção nem liga orações


• Conclusivas
 Exemplo: • As suas decisões, clementes ou cruéis, resultam sempre em harmonia, por isso o seu braço se torna terrífico aos peitos rebeldes.

Conjunções e locuções conjuncionais Subordinativas

São palavras ou expressões invariáveis que servem para ligar frase/orações

Temporais: quando, sempre que, desde que, enquanto, antes que, até que, logo que, depois de

Causais: porque, como, pois, porquanto, pois que, por isso, que, já que, uma vez que, visto que, visto como

Condicionais: se, caso, contanto que, salvo se, dado que, desde que, a menos que

Finais: para que, a fim de que

Comparativas: como, assim como, bem como, como se

Concessivas: embora, ainda que, mesmo que, se bem que, apesar de que

Consecutivas: que (combinada com tal, tão, tanto)de forma quede maneira que

Completivas: que, se


Subordinação

Na frase complexa com orações subordinadas uma das orações, a subordinante ou principal, mantém-se independente. As que dependem dela são subordinadas e recebem a denominação da conjunção ou locução que as iniciam.

Orações Subordinadas

Ulisses que saiu de Ítaca para atacar Tróia vagueou durante dez anos, porque os deuses se eufureceram contra ele, embora Vénus lhe tivesse prometido que chegaria são e salvo à sua pátria.

Este período é constituído por 6 orações. Vamos dividi-las e classificá-las:


- Ulisses vagueou durante dez anos. - oração subordinante/principal
- que saiu de Ítaca. - oração subordinada relativa restritiva
- para atacar Tróia. - oração subordinada final
- porque os deuses se enfureceram contra ele. - oração subordinada causal
- embora Vénus lhe tivesse prometido. - oração subordinada concessiva
- que chegaria são e salvo à sua pátria. - oração subordinada completiva/integrante


 As orações subordinadas podem ser:

 • Temporais
Exemplo: • Quando Eos vermelha aparecer, amanhã, eu te conduzirei à floresta.

• Causais
Exemplo: • Calipso reconhecera logo o mensageiro - pois que todos os imortais sabem uns dos outros os nomes, os feitos e os rostos soberanos.

• Condicionais
Exemplo: - Ó Ulisses, vencedor de homens, se tu ficasses nesta ilha, eu encomendaria para ti, a Vulcano e às suas forjas do Etna, armas maravilhosas...


 • Finais
 Exemplo: - Ó deusa, pensas tu na verdade que nada falte para que eu largue a vela?

Comparativas
Exemplo: • Estas gaivotas repetem tão incessantemente, tão implacavelmente, o seu voo harmonioso e branco que eu escondo delas a face, como outros a escondem das negras harpias!

• Concessivas
Exemplo: • Mas, ainda que não existisse, para me levar, nem filho, nem esposa, nem reino, eu afrontaria alegremente os mares e a ira dos deuses!

Consecutivas
Exemplo: • Ulisses pisou a areia de tal modo, que o magnânimo herói não a sentiu deslizar.

Completivas (ou integrantes)

- têm a função de um nome ou expressão nominal, são normalmente sujeito ou complemento directo de um verbo declarativo.

Exemplo: Por isso Júpiter, regulador da ordem, te ordena, deusa, que soltes o magnânimo Ulisses.
A oração copletiva pode ser substituída por uma expressão nominal:
Por isso Júpiter (...) ordena a libertação do magânimo Ulisses.Ordena o quê? - que soltes Ulisses... esta oração funciona como complemento directo do verbo ordenar, completa o sentido, equivale a libertação ....

A deusa disse que soltassem Ulisses. disse o quê? que O soltassem --- CD

Uma oração subortinada completiva pode ser sujeito:
Que digam a verdade em tribunal é fundamental.
Sujeito: que digam a verdade;
Predicado: é fundamental. - fundamental é o predicativo do sujeito selecionado pelo verbo SER
Assim, a oração completiva pode ser substituída por um pronome pessoal:
Ela é fundamental.

Orações subordinadas Relativas – são iniciadas por pronomes relativos, são de dois tipos:

Restritivas

Exemplo: Ulisses atirou o machado contra um vasto carvalho que gemeu profundamente.
Decomposição:
- Ulisses atirou o machado contra um vasto carvalho.
- O carvalho gemeu profundamente.

A oração relativa "que gemeu profundamente", é restritiva e funciona como um adjectivo, tem a função sintáctica de atributo (ou modificador frásico do nome): (...) um vasto carvalho rachado, ferido... Explicativas
Exemplo: Ulisses, que astuciosamente se livrou de muitos perigos, sofreu durante dez anos a fúria dos deuses.

A oração relativa explicativa "que astuciosamente se livrou de muitos perigos" funciona como uma expressão nominal, tem a função sintáctica de aposto (ou modificador apositivo) e vem sempre entre vírgulas.

A oração relativa pode ser substituída por uma expressão nominal:

Ulisses, astuto e aventureiro, sofreu durante dez anos a fúria dos deuses. Nota: Também pode aparecer a designação de oração relativa adjectiva restritiva ou explicativa.

Há ainda as orações subordinadas relativas substantivas ou independentes, isto é, o pronome relativo não tem antecedente. Estas orações têm, normalmente, função sintáctica de sujeito (1), complemento indirecto (2), agenta da passiva (3), entre outros....


1 - Quem critica quer sobressair. (função de sujeito)
- Ele critica quer sobressair.


2 - Às vezes não damos valor a quem o merece. (função de complemento indirecto)
- Às vezes não lhe damos valor.


3 - As ordens foram dadas por quem tem poder. (agente da passiva)
- As ordens foram dadas pelo director.


Este é um assunto complexo. Os exemplos apresentados são apenas ilustrativos de algumas ocorrências. Consulte-se a gramática, em caso de dúvida.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Deleitem-se, meninos! Não é só marrar....

Um cê a mais
Manuel Halpern
Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o c na pretensão de me ensinar a nova grafia. De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa. Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio. Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes cês e pês me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância. Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueças de mim! Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí. E agora as palavras já nem parecem as mesmas. O que é ser proativo? Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.
Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram hifenes e entraram erres que andavam errantes. É uma união de facto, para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem. Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os és passaram a ser gémeos, nenhum usa chapéu. E os meses perderam importância e dignidade, não havia motivo para terem privilégios, janeiro, fevereiro, março são tão importantes como peixe, flor, avião. Não sei se estou a ser suscetível, mas sem p algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.
As palavras transformam-nos. Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do cê não me faça perder a direção, nem me fracione, nem quero tropeçar em algum objeto abjeto. Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um cê a atrapalhar.


Digam lá. Não é uma delícia o que está a acontecer na história da nossa língua?

domingo, 16 de janeiro de 2011

Prova escrita

I  - Leia, atentamente, o seguinte texto.
 
Calma

Que costa é que as ondas contam
E se não pode encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
E nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar
Onde é que está existindo?


Ilha próxima e remota,
Que nos ouvidos persiste,
Para a vista não existe.
Que nau, que armada, que frota
Pode encontrar o caminho
À praia onde o mar insiste,
Se à vista o mar é sozinho?


Haverá rasgões no espaço
Que dêem para outro lado,
E que, um deles encontrado,
Aqui, onde há só sargaço,
Surja uma ilha velada,
O país afortunado
Que guarda o Rei desterrado
Em sua vida encantada?

Fernando Pessoa, “Mensagem”, in Antologia Poética



Para responder aos itens de 1 a 2, escreva, na folha de respostas, o número do item seguido da letra identificativa da alternativa correcta.

1 - Ao longo do poema, o sujeito poético
a) tenta encontrar uma ilha perdida no nevoeiro.
b) pressente a existência de uma realidade para além do visível.
c) recebe informações sobre as novas terras descobertas anunciadas pelo som das ondas.
d) sonha com uma ilha encantada e um rei adormecido.

1 - b
2. O poema apresenta
a) um sonho de um futuro possível.
b) um presente de estagnação e de possibilidade.
c) um futuro possível ligado ao mar.d) o mar como potenciador do regresso de um passado de glória.
d) o mar como potenciador do regresso de um passado de glória.
 

2 - b
3. Explique, no contexto do poema, a expressividade do oxímoro que inicia a segunda estrofe.


A segunda estrofe inicia-se com o oxímoro “Ilha próxima e remota”, sendo o nome “ilha” modificado por dois adjectivos com um sentido de tal forma antagónico que não podem ser aplicados em simultâneo para caracterizar a mesma entidade, o que institui um paradoxo. Porém, a coexistência dos dois adjectivos antónimos torna-se possível pelo sentido criado nos versos seguintes: “Que nos ouvidos persiste, / Para a vista não existe.” (vv. 9-10). Desta forma, é criada uma relação de proximidade com a ilha, pela apreensão sensorial da sua existência através da audição, embora associada a um afastamento sensorial pela visão. Em termos simbólicos, a proximidade da ilha liga-se ao sonho sempre próximo e ecoado pelas ondas do mar e o afastamento relaciona-se com o conhecimento do real que se afasta do sonho.  
4. Aponte a relação que se estabelece entre o sujeito poético e as ondas do mar.

As ondas do mar permitem ao sujeito poético relacionar-se com aquilo que está para lá do realconhecido: “Que costa é que as ondas contam / E se não pode encontrar” (vv. 1-2), “O que éque as ondas encontram / E nunca se vê surgindo?” (vv. 4-5). Nesta medida, a proximidade do sujeito poético relativamente ao mar permite a aproximação do longe apenas pressentido pelo ecoar das ondas: “Este som de o mar praiar / Onde é que está existindo?” (vv. 6-7). Associa-se, deste modo, a certeza de um real à matéria do sonho. Assim, sujeito poético e ondas estão em dois pólos opostos: o negativo, do desconhecimento e da ausência, e o positivo, do contacto e do conhecimento. Ora a relação que se estabelece entre ambos resulta da ligação ao desconhecido: aquilo que o poeta “não pode encontrar” e “nunca (…) vê” é contado e encontrado pelas ondas que o trazem até ele.



5. Explique em que medida o achamento do “Rei desterrado” ultrapassa os limites físicos do espaço.

O “Rei desterrado” encontra-se numa “ilha velada”, isto é, inacessível à visão e o sujeito poético demonstra, ao longo do poema, a dificuldade – quase impossibilidade – de percorrer o caminho que a ela conduz: “Que nau, que armada, que frota / Pode encontrar o caminho / À praia onde o mar insiste” (vv. 11-13). Embora, de certo modo, haja certeza da existência do lugar onde o Rei se encontra, não parece possível o seu achamento pelos meios reais, neste caso pela navegação pelo mar que circundará a tal ilha. O resgate só ocorrerá se houver “rasgões no espaço / Que dêem para outro lado” (vv. 15-16), ou seja, para um lado desligado do real, sendo o corte no espaço aquilo que permitirá a presentificação da ilha velada: “Aqui, onde só há sargaço” (v. 18). Deste modo, o achamento do “Rei desterrado” depende da concretização do sonho e, consequentemente, do ultrapassar dos limites físicos do espaço.

 

II - Leia o texto com atenção 
  
Durante o curto período de ouro dos Descobrimentos portugueses, ocorridos entre 1434 e cerca de 1530, os seus navegadores – Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e Fernão de Magalhães – ampliaram sobremaneira o Mundo conhecido dos Europeus. Os Portugueses estabeleceram colónias em África, no Extremo Oriente e na América do Sul. Os locais onde desembarcaram vieram a acrescentar novos nomes ao léxico comercial europeu – Luanda, Mombaça, Maldivas, Ormuz, Diu, Goa, Gale, Macau, Tsingtau, Malaca, Melinde, Timor e Rio de Janeiro.
Os comerciantes tanto serviam a Deus como ao Diabo. “Os pregadores levam o Evangelho e os mercadores levam os pregadores”, dizia o jesuíta António Vieira no século XVII. Os portugueses baptizaram a baía de Salvador (a sua primeira capital no Brasil) de Baía de Todos-os-Santos (e alcunharam-na de Baía de Todos-os-Pecados). Exportaram, igualmente, várias inovações europeias como uma impressora móvel que introduziram no Médio Oriente e, provavelmente, no Japão. Termos portugueses entraram na língua de povos distantes como os Japoneses (tempura) e os Indianos (casta), entre outros.
Em suma, tal como Lisboa jamais esqueceria, foram os Portugueses que primeiro “uniram, para o melhor e para o pior, os ramos amplamente separados da grande família humana”, tal como salientou o historiador Charles R. Boxer: “Foram eles que primeiro tornaram a Humanidade consciente, ainda que ao de leve, da sua essencial unidade.”
Mas porquê os Portugueses? Durante o século XV existiam pouco mais de um milhão de portugueses, na sua maioria camponeses analfabetos. Pouco maior que a Escócia, com apenas 130 milhas que se prolongavam até ao seu ponto mais largo, Portugal tinha escassos recursos naturais, embora possuísse uma ampla linha costeira. Entre o Norte montanhoso e o Sul árido, apenas um terço do País era susceptível de ser cultivado. E quando Portugal (o termo “Portugal” deriva de “Portus Cale”, antiga palavra romana que designava o Porto, actualmente a segunda maior cidade do País) principiou a tornar-se um reino durante o século XII, outros navegadores europeus estavam já em actividade: os bascos, os catalães, os genoveses e os venezianos.
Forçados pela geografia a compartilhar a Península com um vizinho mais poderoso (Espanha), os portugueses tiveram, no entanto, talento para sobreviver e para explorar, habilmente, as ambições rivais de potências superiores. Tal permitiria ao pequeno país manter-se independente durante mais de 700 anos de uma turbulenta história europeia.

Kenneth Maxwell, in “O Jornal”, suplemento ao n.° 691, Maio de 1988
1 - Para responder, escreva, na folha de respostas, o número do item, a letra identificativa de cada afirmação e, a seguir, uma das letras, “V” para as afirmações verdadeiras ou “F” para as afirmações falsas.

a) Com o uso do termo “provavelmente” (linha 13) o enunciador apresenta a sua incerteza em relação ao facto que apresenta.

b)  Com o uso da expressão “Em suma” (linha 16) o enunciador reduz um discurso particularizado a uma expressão globalizadora.

c)  O travessão duplo utilizado nas linhas 2 e 3 particulariza uma inferência.

d)  O constituinte “várias” em “várias inovações europeias” (linha 12) desempenha a função de predicativo de complemento directo.

e)  Os termos “tempura” (linha 14) e “casta” (linha 15) são palavras homónimas.

f)  A frase “que se prolongavam até ao seu ponto mais largo” (linha 22) é uma subordinada relativa restritiva.

g) A frase “embora possuísse uma ampla linha costeira” (linha 23) é subordinada concessiva.

h) Na expressão “um vizinho mais poderoso” (linhas 29-30) o referente do nome não corresponde a uma informação anteriormente dada, específica ou identificada.

i) A expressão conectiva “no entanto” (linha 30) introduz um nexo lógico de condição.

1. a) V; b) V; c) F; d) F; e) F; f) V; g) V; h) V; i ) F.


III - Considere a seguinte afirmação:


Um poeta já falou, vendo o homem e seu caminho: "o lar do passarinho é o ar, e não o ninho". E eu voei... Eu passei um tempo fora, eu passei um tempo longe. Não importa quanto tempo, não importa onde. Num lugar mais frio, ou mais quente de repente, onde a gente é esquisita, um lugar diferente.
Letra e música de Gabriel, o Pensador, “Brasa”,do álbum Seja Você Mesmo, Não Seja Sempre o Mesmo, 2001

Apresente uma dissertação sobre as questões levantadas pela afirmação transcrita. Redija um texto bem estruturado, de duzentas a trezentas palavras, fundamentando-se em leituras que tenha realizado. O texto da sua dissertação deverá apresentar o respectivo plano.

 
Sugestão de plano

Tese: o Homem deve cumprir a sua natureza pelo abandono do conforto.

Argumentos:

– o conforto limita o Homem;
– a viagem amplia o conhecimento humano;
– exemplos de leituras: Mensagem

Conclusão: o Homem cumpre-se pelo abandono do lar.


 
Sugestão de dissertação

A afirmação do músico Gabriel, o Pensador, traduz, de forma metafórica, a necessidade de o ser humano procurar a felicidade fora do conforto do seu lar, tal como o passarinho deve abandonar o conforto do ninho e voar, sujeito a enfrentar perigos e obstáculos. No ar está o seu lar, o que significa que a sua natureza é o voo.
Também o Homem, como o poeta sugere, deve partir. Esta partida permite-lhe conhecer diferentes realidades e, como consequência, ampliar a sua visão do mundo. O conforto inibe o cumprimento da natureza humana, pois é restritivo em relação à ampliação do saber, uma vez que, sentindo-se bem, o Homem se julga completo, sem ter noção da magnificência da realidade que existe fora do lar e da dimensão real da sua incompletude. Esta questão atravessa a cultura humana e surge frequentemente traduzida na literatura.
Assim, por exemplo, a obra pessoana Mensagem apresenta essa ideia através do lamento do poeta em relação àqueles que se sentem felizes no conforto do lar em “Triste de quem vive em casa, contente com o seu lar”. No entender do poeta, esta satisfação leva a uma vida que apenas dura, mas que não é realmente vida, uma vez que não cumpre a natureza humana.
Para cumprir a sua condição, o Homem deve, tal como o passarinho, assumir o espaço fora do conforto do lar como o seu verdadeiro lar, isto é, o espaço de habitação e projecção da sua verdadeira natureza: alargar os horizontes.

245 palavras







Observações:

1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen. Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituem.


2. Um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até cinco pontos) do texto produzido.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ficha de Trabalho

Leia, atentamente, o seguinte texto.



Os portugueses lêem menos jornais e periódicos do que qualquer país da União Europeia.
Cinco a dez vezes menos, conforme os países. E tenhamos consciência de que as chamadas taxas de leitura desses países já eram o que são hoje há várias décadas. Tal como as portuguesas. Quer isto dizer que se pode quase admitir que existe um patamar de leitura de imprensa (eventualmente também de livros, eis uma questão para a qual não temos resposta) que o crescimento económico não parece conseguir elevar. Em muitos sectores, os portugueses recuperam atrasos ou, melhor dizendo, encurtam a distância que os separa de outros povos. Mas tal não é o caso quando olhamos para a leitura e a circulação de periódicos e de livros. [...]
A leitura de livros e de jornais é um hábito, uma necessidade cultural e uma exigência profissional, relativamente independente dos níveis de desenvolvimento económico.
Por outras palavras, a leitura de livros e de jornais, durante os séculos XIX e XX, não aumenta necessariamente com o Produto Nacional Bruto. Nem nas mesmas proporções que a alfabetização e a escolarização. [...] Quer isto dizer que há factores explicativos, designadamente históricos, que podem influenciar de modo determinante os níveis de leitura.
No caso português, para retomar a minha hipótese de trabalho, quando foram atingidos níveis razoáveis de escolaridade e quando as taxas de analfabetismo começaram a descer abaixo dos 40 a 50 por cento, já existiam a rádio e sobretudo a televisão. Para a maioria dos portugueses, a palavra escrita nunca foi a principal fonte de informação cultural, profissional, quotidiana, familiar ou política. A televisão instalou-se em Portugal e cobriu o território antes de a escola o ter conseguido. [...] Até porque esta não compreendia[1] os adultos ou os idosos e apenas acolhia as crianças e os adolescentes, nem sequer todos, durante um muito curto período de tempo. Desde então, consolidou-se o lugar da televisão como fonte primordial de informação (e de entretenimento e de consumo cultural), sem que nunca antes a leitura de livros e de periódicos se tivesse generalizado ao País, às regiões e às classes sociais.

António Barreto, “O livro é eterno”, in Tempo de Incerteza, Lisboa, Relógio d’Água, 2002





1. Para cada um dos quatro itens que se seguem (1.1., 1.2., 1.3. e 1.4.), escreva, na sua folha de respostas, a letra correspondente à alternativa correcta, de acordo com o sentido do texto.


1.1. Segundo o autor, há várias décadas que a taxa de leitura de imprensa em Portugal é inferior à dos outros países da União Europeia (UE). Tal facto corresponde à situação seguinte:


a) o número de leitores tem subido em todos os países da UE, excepto em Portugal.
b) o crescimento económico dos outros países da UE tem favorecido a expansão da leitura.
c) as taxas de leitura em Portugal e nos outros países da UE têm-se mantido inalteráveis.
d) a incapacidade portuguesa de recuperar atrasos tem marcado toda a vida nacional.

1.1 - C

 
1.2. Segundo o autor, os fracos índices de leitura de livros e de jornais, no Portugal de hoje, são fundamentalmente determinados pelo facto de

a) o Produto Nacional Bruto ter vindo a aumentar de forma muito pouco significativa.
b) as taxas de analfabetismo terem permanecido demasiado elevadas entre os portugueses.
c) os níveis de escolaridade atingidos pela população portuguesa serem insuficientes.
d) o hábito de ver televisão se ter enraizado antes de se ter generalizado o hábito de ler.

1.2 - d


1.3. O antecedente do pronome relativo “que” (linha 6) é


a) “taxas de leitura” (linha 3).
b) “leitura de imprensa” (linhas 4-5).
c) “um patamar de leitura de imprensa” (linhas 4-5).
d) “uma questão” (linha 5).

1.3 - c 


1.4. O recurso às expressões “A leitura de livros e de jornais” (linha 10), “a leitura de livros e de jornais” (linha 12) e “a leitura de livros e de periódicos” (linha 25)


a) contribui para reforçar o carácter descritivo do texto.
b) serve para introduzir enumerações ilustrativas.
c) mobiliza significados diferentes das expressões.
d) constitui um mecanismo de coesão lexical do texto.

1.4 - d

2. Neste item, faça corresponder a cada um dos quatro elementos de A um elemento de B,de modo a obter afirmações verdadeiras. Escreva, na sua folha de respostas, ao lado do número da frase, a alínea correspondente.


A

1) Com o uso da conjunção coordenativa adversativa “Mas” (linha 8)
2) Com a expressão “Por outras palavras” (linha 12)
3) Com o recurso à forma do verbo auxiliar modal “podem” (linha 15)
4) Com a apresentação de informaçãoentre parêntesis (linhas 25-26)


B


a) o enunciador exprime um contraste relativamente à ideia antes apresentada.

b) o enunciador introduz aspectos acessóriosrelativamente ao tópico que se encontra a tratar.

c) o enunciador recorre à autoridade de alguém para reforçar as suas ideias.

d) o enunciador apresenta o conteúdo da frase como uma possibilidade.
e) o enunciador introduz uma explicitação das afirmações anteriormente feitas.

f) o enunciador narra um acontecimento ilustrativo da ideia exposta.
g) o enunciador define a estrutura global do texto.


1 - a
2 - e
3 - d
4 - b

GRUPO III


Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, apresente uma reflexão sobre a tese relativa às preferências culturais dos jovens, exposta no texto a seguir transcrito. Para fundamentar o seu ponto de vista, recorra, no mínimo, a dois argumentos, ilustrando cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.


“Cultura clássica é o conjunto dos géneros estabelecidos: o livro, o cinema, o teatro,as posições. Assiste-se progressivamente à substituição destes domínios instalados pelas tradições e pelas escolas por uma outra forma de cultura, particularmente apreciada pelos jovens e, claro, por eles veiculada, e que é constituída pelo vídeo, pelas magias informáticas, pelos novos modos de comunicar ou de ouvir música ou por essas mesmas músicas, o rap ou a tecno.”


Bernard Pivot, cit. in José Afonso Furtado, Os Livros as Leituras – Novas Ecologias da Informação,
Lisboa, Livros e Leituras, 2000




Observações:



1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.:/dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2006/).


2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras –, há que atender ao seguinte:
– a um texto com uma extensão inferior a oitenta palavras é atribuída a cotação de 0 (zero) pontos;
– nos outros casos, um desvio dos limites de extensão requeridos implica uma desvalorização parcial (até cinco pontos) do texto produzido.






FIM