domingo, 17 de julho de 2011

2ª Chamada

Sei que alguns vão fazer a 2ª chamada.

Aos interessados relembro que terei disponibilidade para rever questões e tirar dúvidas, passem a notícia:

Terça-feira, 19 de Julho - 11:00 - 12:30

Quarta-feira, 20 de Julho - 11:00 - 12:30

Quinta-feira, 21 de julho - 11:00 - 12:30

O Exame 1ª Chamada

Conhecidos os resultados dos exames, considero importante tecer algumas considerações sobre a prova.
Em primeiro lugar, perante o panorama geral, vocês deram excelente prova de que são capazes. Disso eu não duvidava, porém a prova que vos coube em sorte nada favoreceu as vossas performances que, numa prova normal, ainda seria melhor em pelo menos 3 a 4 pontos acima, nalguns casos. Em segundo, a prova era traiçoeira e parcial, relativamente ao longo programa de 12º ano, uma esfinge autêntica, e isso não se faz, no meu entender. Primeira parte PESSOA (Campos e Reis), digamos 15% do programa para 50% da avaliação.

Grupo 1:

Perante um poema esteticamente inquestionável, da tal fase mais intimista de Álvaro de Campos, não estranharam que nada se perguntasse sobre isso, ou que isso não aparecesse nos critérios de correcção? E que dizer da 4ª questão!? Uma autêntica fraude interpretativa. A proposta de correcção dá como chave interpretativa muito restrita do verso 16: Quais outros? Não há outros, indicando que "cada outro é um eu". Ora o que muito simplesmente os outros, neste contexto bem específico, são a soma de "eus", a multidão insensível, só cada "eu" poderá sentir. Não foi considerada esta leitura. Depois acrescenta-se um desvario, ao indicar-se que entre os versos 17 a 20  manifestam "a incomunicabilidade esencial entre humanos, de que resulta a consciência individual de cada eu". Delírio puro, não lírica pura! O que se faz esteticamente na estrofe 7, onde estão incluídos esses versos, é acentuar o carácter onírico, o sonho do "eu", enunciado logo no 1º verso.... e o contraste com a realidade dos aoutros que julga ter observado, emparedados, na sua vida rotineira. Um eu lúcido que não tolera a rotina
Por fim, o confronto entre a gaiola dos sonhos e a gaiola das casas.... as metáforas e os paradoxos, alimento estético da literatura, não deveriam ser objecto de questionário? Claro que sim.

Outra questão que suscitou dúvidas, foi a primeira pergunta. A maioria não estabelece a diferença entre sensação, o mundo dos sentidos, o empírico e sentimento, questão psicológica! Esta questão era, numa primeira abordagem, de uma simplicidade tal que os alunos acharam que não seria possível tal pergunta! Exige atenção. Nas provas que vi 80% dos alunos desperdiçaram 15 pontos desta forma. Mas atenção, se os alunos falham, os professores que preparam um exame durante um ano inteiro, não podem falhar. Seria perfeitamente aceitável, como critério de correcção, conferir pontuação a respostas de alunos que encaram a sensação como fenómeno sensorial e psicológico simultaneamente. Note-se por exemplo o seguinte conceito: SENSAÇÃO - facto psicofisiológico (psico+fisio) que deriva de um estímulo sensorial e origina um estímulo traduzido numa emoção, ou vice-versa. Os critérios fechados não aceitavam.

A composição

Reflectir sobre a importância da literatura.

Como estarão lembrados, nós durante o ano fizemos uma composição sobre os livros que lemos, os filmes que vemos, os qudros que apreciamos. Na verdade, todos os objectos estéticos contribuem para a estrutura cultural do ser humano. Não sei como trataram o tema, mas deixo aqui algumas considerações e ratoeiras que alguns alunos, via-se pela escrita que alguns deles seriam muito bons, cairam indesejavelmente.

Partindo de uma citação discutível ideologicamente, ao propor o tema da LITERATURA como modelar em vários sentidos, a amplitude do conceito confronta os jovens com dois problemas imensos, trabalhos de Sísifo.
O primeiro é não conseguirmos dissociar literatura de leitura. Uma leva à outra, sem dúvida. O segundo, mais difícil, como arranjar dois exemplos e duas ilustrações acima da média, isto é que não passassem de trivialidades: ler é melhor do que não ler, desde pequenos lemos e ouvimos histórias fantásticas, os que lêem normalmente têm melhores resultados escolares, estão mais informados, estamos mais preparados para ir a uma entrevista de emprego, etc.... já começamos a derivar, e a literatura de que fala MAP não é bem esta já. É um conceito muito mais amplo que muitos professores rejeitam. Para uns a literatura são os clássicos para outros até a revista Maria serve.
Estas questões colocam não só problemas aos examinados como aos examinadores. Como cotar trivialidadades sucessivas? Raros são os alunos que percepcionam a literatura como arte, objecto estético de que alguns até não gostam, por isso não aderem a nada; outros não gostam, mas explicam-no; outros até gostarão e não são capazes de a explicar, é essencial! E que dizer daqueles que porventura se atrevessem a discordar da citação-motivo, por uma razão ou outra? Para estes o problema afigurava-se ainda maior. Teriam de fingir se para tal tivessem engenho e arte. Por exemplo, as tias de Clarissa (Clarissa, de Erico Veríssimo) entendiam que ler muito cansava a vista! Dedução (pato)lógica de um simples popular.
Os resultados evidenciam a dissociação desastrosa entre a prova de avaliação e os conteúdos programáticos declarativos do 12º ano. Isso preocupa-me. Preocupante é a reacção aos resultados da nova tutela: dar mais horas daquilo que por vezes não se gosta mesmo; para uns será melhor, para outros um desastre.

Jorge Marão