sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Questões

TEXTO 1
28
"Deu sinal a trombeta Castelhana,
Horrendo, fero, ingente e temeroso;
Ouviu-o o monte Artabro, e Guadiana
Atrás tornou as ondas de medroso;
Ouviu-o o Douro e a terra Transtagana;
Correu ao mar o Tejo duvidoso;
E as mães, que o som terríbil escutaram,
Aos peitos os filhinhos apertaram.
29
Quantos rostos ali se vêem sem cor,
Que ao coração acode o sangue amigo!
Que, nos perigos grandes, o temor
É maior muitas vezes que o perigo;
E se o não é, parece-o; que o furor
De ofender ou vencer o duro amigo
Faz não sentir que é perda grande e rara,
Dos membros corporais, da vida cara.
30
"Começa-se a travar a incerta guerra;
De ambas partes se move a primeira ala;
Uns leva a defensão da própria terra,
Outros as esperanças de ganhá-la;
Logo o grande Pereira, em quem se encerra
Todo o valor, primeiro se assinala:
Derriba, e encontra, e a terra enfim semeia
Dos que a tanto desejam, sendo alheia.
31
Já pelo espesso ar os estridentes
Farpões, setas e vários tiros voam;
Debaixo dos pés duros dos ardentes
Cavalos treme a terra, os vales soam;
Espedaçam-se as lanças; e as frequentes
Quedas coas duras armas, tudo atroam;
Recrescem os amigos sobre a pouca
Gente do fero Nuno, que os apouca.
32
Eis ali seus irmãos contra ele vão,
(Caso feio e cruel!) mas não se espanta,
Que menos é querer matar o irmão,
Quem contra o Rei e a Pátria se alevanta:
Destes arrenegados muitos são
No primeiro esquadrão, que se adianta
Contra irmãos e parentes (caso estranho!)
Quais nas guerras civis de Júlio e Magno.
.
1. O «som terríbil» (est. 28, v. 7) teve repercussões que não podemos deixar de classificar como verdadeiramente invulgares.
1.1. Pela distância a que foi ouvido. Identifique-o.
1.2. Pelos efeitos que causou na natureza. Refira-os.
1.3. Pelos efeitos que causou nas pessoas, participantes ou não da batalha. Aponte-os.
1.4. Com que intenção se recorre, neste contexto, às personificações e hipérboles?
.
2. Atente na estrofe 30.
2.1.Neste episódio os motivos que desencadearam a batalha estão sintetizados em dois versos (est. 30)
2.1.1. Refira-os e interprete-os.
.
2.2. Atente nos dois últimos versos da estrofe 30.
2.2.1. Identifique o recurso estilístico utilizado, indicando o seu valor expressivo.
.
2.3. Qual a importância da expressão “sendo alheia”, na estância 30?

3. Os estados de alma antes de uma guerra são descritos de forma sublime na estância 29.
3.1. Que sentimentos são atribuídos aos combatentes e que faz não temer a sua própria vida?


4. Na estância 31, surge um momento descritivo.
4.1. Mostre, através de um levantamento de palavras ou expressões, que as sensações auditivas estiveram em destaque na batalha.
4.2. Identifique, agora, exemplificando, o recurso expressivo mais utilizado para transmitir essas sensações.
4.3. Retire da estrofe um eufemismo utilizado para narrar a morte dos inimigos.

5. Atente na estância 32
5.1. Explique o sentido dos seguintes versos, tendo em conta o contexto em que aparecem: “Que menos é querer matar o irmão, / Quem contra o rei e a pátria se alevanta."
5.2. Identifique o motivo por que surgem expressões entre parênteses nesta estrofe.
5.3. Identifique o recurso estilístico presente no último verso desta estância.
6 - Identifique o episódio a que pertence o excerto, classifique-o e integre-o na estrutura da obra.

II - Questão comentário

Faça um comentário à citação (texto 2) que se segue, elaborando um texto que tenha entre 80 e 140 palavras:

TEXTO 2
"A imitação dos modelos clássicos era a herança que os classicistas dedicavam aos autores gregos e latinos. Mais uma vez é preciso notar que a imitação não consistia em mera cópia: seguindo os modelos e as tradições clássicas — a arte, a eloquência citada por Camões na Proposição de Os Lusíadas — na qual esboça o projecto do seu canto de sublimação do homem — se ajudado pelo engenho e pela arte, o talento próprio. Para o épico, mais do que imitar, era necessário superar."

Comentário
 
Tópicos que posso desenvolver:
 
- o classicismo/imitação de epopeias clássicas Ilíada, Odesseia e Eneida
- matéria de epopeia: os feitos dos portugueses
- a tarefa do poeta
- a superação
 
O texto aponta claramente para aspectos fundamentais da tradição clássica e do contributo dos portugueses para o Renascimento.
Camões, tanto como poeta lírico como épico, conhece bem os domínios da cultura greco-romana, especialmente as obras homéricas a Ilíada e a Odisseia, a Eneida de Vergílio. Do mesmo modo que os seus antecessores, propõe-se cantar feitos. Camões louva os dos portugueses - descobrimentos e guerras - destacando o contributo das viagens na inovação e no conhecimento do mundo, e o encontro de civilizações, entre o Ocidente e Oriente, há muito desejado; mas também as vitórias guerreiras no alargamento da fé cristã. Esta é a matéria da epopeia.
A tarefa do poeta, com talento e inspiração, é, pois, sublimar, cantar por toda a parte os heróis reais que se distinguiram ao serviço da pátria, superando os feitos dos heróis míticos e antigos.
 
140 palavras

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