terça-feira, 12 de outubro de 2010

Teste

GRUPO I (100 pontos)

Leia, atentamente, o seguinte excerto de um conto de Mário Dionísio.

A primeira vez que a vira fora de noite, à saída dum baile. Já a conhecia, sim, mas nunca a vira. Tudo era medíocre, como sempre, naquele baile, com as mães e as tias sentadas a toda a volta da sala, na segunda fila de cadeiras, as filhas na primeira, os rapazes às portas, prontos para o assalto mal a orquestra recomeçasse, as mães vigiando, as tias vigiando, avaliando, impedindo ou estimulando os namoros possíveis, os casamentos prováveis. O objectivo dos rapazes não era precisamente o mesmo. Mas tinham de aceitar as regras do jogo se queriam chegar a tempo às peças mais cobiçadas, sobretudo nos tangos, dançados à media luz, quando a sala ficava repleta e toda a vigilância se tornava praticamente inviável.
No meio daquela gente alegremente entregue a esse jogo dissimulado de oferta e de procura, Augusto surpreendera, de súbito, o sorriso de Matilde, como quem estivesse a olhar por um binóculo uma paisagem sem interesse e descobrisse um pormenor inesperado com uma nitidez fascinante. Em volta, tudo continuara desfocado, os lustres, as cadeiras, as pessoas que mal conhecia e que eram a mãe de Matilde, as amigas de Matilde, as mães das amigas de Matilde. Dançaram uma vez quase no fim da noite. E falaram. De quê? Não interessava de quê. Só o tom, a descoberta, o alvoroço interior, interessavam. E desceram a escada juntos, um pouco atrás de Ana Soeiro e das amigas, que nessa altura só estavam realmente
preocupadas com arranjar um táxi. Atrás de Ana Soeiro e das amigas, degrau a degrau, demorando a separação. Atrás de qualquer coisa que nascia.
Era já madrugada. Os candeeiros apagavam-se nesse instante e do cimo dos prédios caíam molemente os primeiros bafos duma claridade ainda baça. As senhoras mandavam parar táxis, despediam-se. E a luz indecisa prendia-se nos cabelos, nos olhos, e no sorriso de Matilde. Tinha um lenço azulado ou esverdeado, transparente, em volta dos cabelos que se despenteavam à aragem da manhã próxima. Viu-a entrar no carro sem lhe dizer mais nada. E guardou para sempre, emoldurados pela janela de vidraça descida, esses cabelos que fugiam do lenço transparente, esses olhos na sombra, esse sorriso.
Mário Dionísio, «O Corte das Raízes», in O Dia Cinzento e Outros Contos,
Lisboa, Publicações Europa-América, 1978
Nota:
Ana Soeiro (l. 16 e 17): mãe de Matilde.

Apresente, de forma estruturada, as suas respostas ao questionário.

1. Indique dois dos motivos que levam o narrador a considerar que tudo naquele baile era «medíocre» (linha 2) e que o baile não passava de um «jogo dissimulado de oferta e de procura» (linha 9).

2. Reconstitua, com base no texto (linhas 9-15), as fases da aproximação entre Augusto e Matilde durante o baile.

3. A expressão «atrás de» surge repetida em três períodos do texto (linhas 16-18). Explicite dois dos valores expressivos produzidos por essa repetição.

4. Analise a relação de sentido que a dupla ocorrência da forma verbal «vira», nas linhas 1 e 2, estabelece com o último parágrafo.

5. Identifique o recurso estilístico e especifique a relação de sentido que a expressão “E uma luz indecisa prendia-se dos cabelos, nos olhos, e no sorriso de Matilde” estabelece entre a situação temporal e o ponto de vista do narrador.

6. Identifica pelo menos duas expressões temporais que ajudem a localizar a acção no tempo e que dêem nota da passagem do tempo.


GRUPO II (28 + 12 pontos

1. A glorificação do herói é um dos temas centrais da épica camoniana. Partindo da sua experiência de leitor de Os Lusíadas, redija um texto, entre 100 e 160 palavras, em que registe as suas impressões de leitura, quem se glorifica e o modo como se é glorificado.

2. Nesta questão, faça corresponder a cada uma das alíneas a coluna A a um elemento da coluna B, de modo a obter afirmações lógicas de acordo com o valor de cada expressão.

A                                                                                                  B

                                                                                          a) O enunciador exprime uma relação de causa

1 - Quando se faz referência a um autor,                                 b) O enunciador recorre à autoridade de ontrém como forma de argumentar
                                                                                                para confirmar a sua tese.
2 - Com o uso conjugado das expressões
      por um lado e mas, por outro lado,                           c) O enunciador explicita ideia de alternativa.

3 - Com o uso da expressão fica claro                              d) O enunciador intruduz um novo tema ou
     e para abreviar                                                                 uma variante do que disse anteriormente

4 - Com o uso da expressão há que tomar em
      conta também,                                                            e) O enunciador explicita uma objecção
       
                                                                                           f) O enunciador prepara-se para concluir


 GRUPO III – Composição  (60 pontos)

Num texto bem estruturado, com o mínimo de duzentas e um máximo de 260 palavras. apresente uma reflexão sobre a exploração do espaço expressa no excerto que se apresenta. Para fundamentar o seu ponto de vista, recorra a pelo menos dois argumentos, ilustrando cada um deles com um exemplo significativo.

Os voos espaciais, os projectos interplanetários - apesar do génio e do heroísmo que exigem - podem encobrir a incapacidade das grandes nações industriais de resolver os problemas humanos de desenvolvimento económico e social, porque grande número de recursos, de virtualidades quase infinitas, são negados e não são repartidos por todos e assim as grandes nações voam para longe da Terra.









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