quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Comentário

TEXTO 2
"A imitação dos modelos clássicos era a herança que os classicistas dedicavam aos autores gregos e latinos. Mais uma vez é preciso notar que a imitação não consistia em mera cópia: seguindo os modelos e as tradições clássicas — a arte, a eloquência citada por Camões na Proposição de Os Lusíadas — na qual esboça o projecto do seu canto de sublimação do homem — se ajudado pelo engenho e pela arte, o talento próprio. Para o épico, mais do que imitar, era necessário superar."

Comentário

Tópicos que posso desenvolver:
- o classicismo/imitação de epopeias clássicas Ilíada, Odisseia e Eneida
- matéria de epopeia: os feitos dos portugueses
- a tarefa do poeta
- a superação

O texto aponta claramente para aspectos fundamentais da tradição clássica e do contributo dos portugueses para o Renascimento.
Camões, tanto como poeta lírico como épico, conhece bem os domínios da cultura greco-romana, especialmente as obras homéricas a Ilíada e a Odisseia, a Eneida de Vergílio. Do mesmo modo que os seus antecessores, propõe-se cantar feitos. Camões louva os dos portugueses - descobrimentos e guerras - destacando o contributo das viagens para a inovação, o conhecimento do mundo, o encontro de civilizações, entre o Ocidente e Oriente, há muito desejado; mas também as vitórias guerreiras no alargamento da fé cristã. Esta é a matéria da epopeia.
A tarefa do poeta, com talento e inspiração, é, pois, sublimar, cantar por toda a parte os heróis reais que se distinguiram ao serviço da pátria, superando os feitos dos heróis míticos e antigos.

140 palavras

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A DEÍXIS

DEÍXIS: palavra criada a partir do grego ‘deîksis,deíkse,ós’ «citação, demonstração, prova, exposição»

A deixis designa o conjunto de palavras ou expressões (expressões deícticas) que têm como função ‘apontar’ para o contexto situacional. Com efeito, por si só essas palavras, digamos que são vazias. Essas palavras ou expressões, só ao serem utilizadas num discurso concreto, adquirem significado, uma vez que o seu referente depende do contexto. Por outras palavras, a deixis pode ser definida como o conjunto de processos linguísticos que permitem inscrever no enunciado as marcas da sua enunciação, que é única e irrepetível. Assim, assinalam o sujeito que enuncia (locutor), o sujeito a quem se dirige (interlocutor/destinatário), o tempo e o espaço da enunciação.
O sujeito da enunciação/locutor é o ponto central a partir do qual se estabelecem todas as coordenadas do contexto: eu é aquele que diz eu no momento em que fala; tu é a pessoa a quem o eu se dirige; agora é o momento em que o eu fala; aqui é o lugar em que o eu se encontra; isto é um objecto que se encontra perto do eu, os tempos verbais indicam um tempo anterior, simultâneo ou posterior ao momento da enunciação (ex.: escrevi, escrevo, escreverei. Ou "Já no Oceano navegavam ... enquanto os deuses ... "). Com efeito, é o sistema de coordenadas referenciais (EU/TU—AQUI—AGORA) da enunciação que possibilita a atribuição de sentidos referenciais.


“A própria palavra deixis, pelo seu sentido etimológico, está associada ao gesto de “apontar”.

O diálogo que se segue apresenta a negrito os elementos deícticos:

Joana: Eu amanhã encontro-te aqui às 10h.
Pedro: Eu não estou disponível! Pode ser de tarde?

No primeiro enunciado, eu significa Joana, enquanto, no segundo, eu significa Pedro, tal como o pronome pessoal te do primeiro enunciado. Também o deíctico amanhã só pode ser correctamente interpretado com conhecimento do dia em que decorreu este diálogo, uma vez que significa sempre o dia seguinte ao da enunciação. Do mesmo modo, o advérbio aqui apenas pode ser definido conhecendo o local da enunciação. Finalmente, sufixos flexionais de tempo-modo-aspecto e pessoa-número indicam, neste caso, simultaneamente a pessoa e o tempo verbal: o tempo utilizado (presente do indicativo) indica uma acção que decorrerá num futuro próximo ao do presente da enunciação.
Assim, a interpretação deste enunciado requer o conhecimento das coordenadas AGORA-AQUI, caso contrário, a comunicação revela-se ineficaz. O mesmo acontece em relação à coordenada temporal num cartaz em que se omitiu a data a que se refere hoje:

Hoje, greve geral dos ferroviários!

Os deícticos inserem-se em diversas categorias gramaticais, adquirindo sentido pleno apenas no contexto em que se emitem. Assim, pertencem à categoria dos deícticos:
— os pronomes pessoais;
— os pronomes e determinantes possessivos;
— os pronomes e determinantes demonstrativos;
— os artigos;
— os advérbios de lugar e de tempo;
— os tempos verbais;
— alguns vocábulos, como ir / vir (movimento de afastamento / aproximação em relação ao espaço em que se encontra o locutor e interlocutor, respectivamente).

Em função da sua natureza deíctica, é possível apresentar a seguinte classificação:

Deixis pessoal — indica as pessoas do discurso, permitindo seleccionar os participantes na interacção comunicativa. Integram este grupo os pronomes pessoais (ex.: tu, me, nós, etc.), determinantes e pronomes possessivos (ex.: o meu, o vosso, teu, etc.), sufixos flexionais de pessoa-número (ex.: falas, falamos, etc.), bem como vocativos. (Algumas formas verbais não apresentam um sufixo flexional específico de pessoa-número (ex.: falo, disse, fizer, etc.). Nestes casos, o sufixo inclui as informações relativas ao tempo-modo-aspecto e pessoa-número, tratando-se assim de uma amálgama).

Quanto eu disser não ouças,
quanto eu fizer não vejas;
e, se eu estender as mãos,
não me estendas as tuas.

Aceita que eu exista como os sonhos
que ninguém sonha,
as imagens malditas que no espelho
são noite irreflectida

Talvez que então
da pura solidão
eu desça à vida.
(J. Sena, Fidelidade)

Deixis espacial — assinala os elementos espaciais, tendo como ponto de referência o lugar em que decorre a enunciação. Ou seja, evidencia a relação de maior ou menor proximidade relativamente ao lugar ocupado pelo locutor. Cumprem esta função os advérbios ou locuções adverbiais de lugar (ex.: aqui, cá, além, acolá, aqui perto, lá de cima, etc.), os determinantes e pronomes demonstrativos (ex.: este, essa, aquilo, o outra, a mesma, etc.), bem como alguns verbos que indicam movimento (ex.: ir, partir; chegar; aproximar-se; afastar-se, entrar, sair, subir, descer, etc.).
Vamos até ali... — convidou, implorativo, o Leonel, perdido pela namorada.
Ali, aonde? — perguntou ela, sem forças para resistir.
Ali adiante...
(M. Torga, Novos Contos da Montanha)

Deixis temporal — localiza, no tempo, factos, tomando como ponto de referência o “agora” da enunciação. Desempenham esta função os advérbios, locuções adverbiais ou expressões de tempo (ex.: amanhã, ontem, na semana passada, no dia seguinte, etc.) e sufixos flexionais de tempo-modo-aspecto (ex.: falarei; faláveis, etc.).

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã
a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
(…)
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático

Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã
(Á. Campos, Poesias)

Deixis social — ligada às formas de tratamento, assinala a relação hierárquica existente entre os participantes da interacção discursiva e os papéis por eles assumidos. Servem de suporte a esta função os elementos linguísticos pertencentes às chamadas formas de tratamento (ex.: o senhor, vossa excelência, senhor director, etc.).
Eu quero prevenir já o senhor doutor de que em minha casa um banho é um banho, quero dizer, é para uma pessoa se lavar. (V. Ferreira, Aparição)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Questões

TEXTO 1
28
"Deu sinal a trombeta Castelhana,
Horrendo, fero, ingente e temeroso;
Ouviu-o o monte Artabro, e Guadiana
Atrás tornou as ondas de medroso;
Ouviu-o o Douro e a terra Transtagana;
Correu ao mar o Tejo duvidoso;
E as mães, que o som terríbil escutaram,
Aos peitos os filhinhos apertaram.
29
Quantos rostos ali se vêem sem cor,
Que ao coração acode o sangue amigo!
Que, nos perigos grandes, o temor
É maior muitas vezes que o perigo;
E se o não é, parece-o; que o furor
De ofender ou vencer o duro amigo
Faz não sentir que é perda grande e rara,
Dos membros corporais, da vida cara.
30
"Começa-se a travar a incerta guerra;
De ambas partes se move a primeira ala;
Uns leva a defensão da própria terra,
Outros as esperanças de ganhá-la;
Logo o grande Pereira, em quem se encerra
Todo o valor, primeiro se assinala:
Derriba, e encontra, e a terra enfim semeia
Dos que a tanto desejam, sendo alheia.
31
Já pelo espesso ar os estridentes
Farpões, setas e vários tiros voam;
Debaixo dos pés duros dos ardentes
Cavalos treme a terra, os vales soam;
Espedaçam-se as lanças; e as frequentes
Quedas coas duras armas, tudo atroam;
Recrescem os amigos sobre a pouca
Gente do fero Nuno, que os apouca.
32
Eis ali seus irmãos contra ele vão,
(Caso feio e cruel!) mas não se espanta,
Que menos é querer matar o irmão,
Quem contra o Rei e a Pátria se alevanta:
Destes arrenegados muitos são
No primeiro esquadrão, que se adianta
Contra irmãos e parentes (caso estranho!)
Quais nas guerras civis de Júlio e Magno.
.
1. O «som terríbil» (est. 28, v. 7) teve repercussões que não podemos deixar de classificar como verdadeiramente invulgares.
1.1. Pela distância a que foi ouvido. Identifique-o.
1.2. Pelos efeitos que causou na natureza. Refira-os.
1.3. Pelos efeitos que causou nas pessoas, participantes ou não da batalha. Aponte-os.
1.4. Com que intenção se recorre, neste contexto, às personificações e hipérboles?
.
2. Atente na estrofe 30.
2.1.Neste episódio os motivos que desencadearam a batalha estão sintetizados em dois versos (est. 30)
2.1.1. Refira-os e interprete-os.
.
2.2. Atente nos dois últimos versos da estrofe 30.
2.2.1. Identifique o recurso estilístico utilizado, indicando o seu valor expressivo.
.
2.3. Qual a importância da expressão “sendo alheia”, na estância 30?

3. Os estados de alma antes de uma guerra são descritos de forma sublime na estância 29.
3.1. Que sentimentos são atribuídos aos combatentes e que faz não temer a sua própria vida?


4. Na estância 31, surge um momento descritivo.
4.1. Mostre, através de um levantamento de palavras ou expressões, que as sensações auditivas estiveram em destaque na batalha.
4.2. Identifique, agora, exemplificando, o recurso expressivo mais utilizado para transmitir essas sensações.
4.3. Retire da estrofe um eufemismo utilizado para narrar a morte dos inimigos.

5. Atente na estância 32
5.1. Explique o sentido dos seguintes versos, tendo em conta o contexto em que aparecem: “Que menos é querer matar o irmão, / Quem contra o rei e a pátria se alevanta."
5.2. Identifique o motivo por que surgem expressões entre parênteses nesta estrofe.
5.3. Identifique o recurso estilístico presente no último verso desta estância.
6 - Identifique o episódio a que pertence o excerto, classifique-o e integre-o na estrutura da obra.

II - Questão comentário

Faça um comentário à citação (texto 2) que se segue, elaborando um texto que tenha entre 80 e 140 palavras:

TEXTO 2
"A imitação dos modelos clássicos era a herança que os classicistas dedicavam aos autores gregos e latinos. Mais uma vez é preciso notar que a imitação não consistia em mera cópia: seguindo os modelos e as tradições clássicas — a arte, a eloquência citada por Camões na Proposição de Os Lusíadas — na qual esboça o projecto do seu canto de sublimação do homem — se ajudado pelo engenho e pela arte, o talento próprio. Para o épico, mais do que imitar, era necessário superar."

Comentário
 
Tópicos que posso desenvolver:
 
- o classicismo/imitação de epopeias clássicas Ilíada, Odesseia e Eneida
- matéria de epopeia: os feitos dos portugueses
- a tarefa do poeta
- a superação
 
O texto aponta claramente para aspectos fundamentais da tradição clássica e do contributo dos portugueses para o Renascimento.
Camões, tanto como poeta lírico como épico, conhece bem os domínios da cultura greco-romana, especialmente as obras homéricas a Ilíada e a Odisseia, a Eneida de Vergílio. Do mesmo modo que os seus antecessores, propõe-se cantar feitos. Camões louva os dos portugueses - descobrimentos e guerras - destacando o contributo das viagens na inovação e no conhecimento do mundo, e o encontro de civilizações, entre o Ocidente e Oriente, há muito desejado; mas também as vitórias guerreiras no alargamento da fé cristã. Esta é a matéria da epopeia.
A tarefa do poeta, com talento e inspiração, é, pois, sublimar, cantar por toda a parte os heróis reais que se distinguiram ao serviço da pátria, superando os feitos dos heróis míticos e antigos.
 
140 palavras

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Inês de Portugal, Rainha póstuma? Amor eterno?

1- Tipo de episódio: Lírico-dramático
2- Canto: III
3- Plano:
História de Portugal
4- Narrador: Vasco da Gama (não participante/omnisciente e subjectivo)

5- Argumentos de Inês:a) Oposição entre a crueldade dos homens e piedade dos animais selvagens pelas crianças (126);
b) Não é humano matar uma dama/donzela só porque ama, inocente, mãe, mulher. (127);
c) Invocação da sua fragilidade, da sua inocência e da orfandade dos seus filhos (127);
d) Pedido de clemência (128);
e) Sugestão de exílio na Cítia ou na Líbia ou entre os leões e tigres (129);

6- Evolução psicológica de D. Afonso IV:
1º Determina matar Inês, por causa do murmurar do povo e do filho que não se queria casar com outra (122-123);
2º Fica com piedade, porque viu Inês com as crianças (124);
3º O Rei é persuadido pelo povo com falsas e ferozes razões (124);
4º Queria perdoar-lhe por causa do seu discurso (130);

5º O povo, essa massa insensível, convence o Rei a matá-la, porque assim estava destinado (130);

7- Características da tragédia clássica presentes no episódio:
a) Personagens de alta estirpe social – tudo se passa entre nobres.
b) Presença de sentimentos de piedade e horror: “Já movido a piedade”;“horríficos algozes”;“ brutos matadores”;”férvidos e irosos”; "olhos piedosos”.
c) Presença do destino que castiga personagens inocentes: - “Que a fortuna não deixa durar muito…”;”E o seu destino (que desta sorte o quis)”
d) Existência de um ponto culminante: Decisão de matar e morte de Inês (130-132)
e) Existência de um coro que vai comentando as partes mais trágicas (comentários do narrador): “contra uma dama, ó peitos carniceiros, Feros vos amostrais e cavaleiros?”

Há um texto de apoio muito interessante que podem consultar carregando em: www.notapositiva.com/trab_professores/textos_apoio/portugues/Ines_de_Castro.htm#_ftn4

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Ourique - Milagre ou construção necessária?

O milagre de Ourique   (lenda)?


A Batalha de Ourique é um episódio simbólico para a monarquia portuguesa. Conta-se que nesse dia, D. Afonso Henriques foi pela primeira vez aclamado rei de Portugal. Tudo aconteceu no dia 25 de Julho de 1139, no campo de Ourique .
Aí se defrontaram o exército cristão e os cinco reis mouros de Sevilha, Badajoz, Elvas, Évora e Beja mais os seus guerreiros, que ocupavam o sul da península.
A lenda diz-nos que pouco antes da batalha, D. Afonso Henriques foi visitado por um velho homem, que já tinha visto em sonhos, que de forma enigmática, lhe anunciou uma profética vitória contra os mouros. Para que tal acontecesse, o rei deveria, na noite seguinte, sair sozinho do acampamento, mal ouvisse a sineta da ermida onde o velho vivia. O cavaleiro assim fez, mas assim que deixou de avistar os seus homens, foi surpreendido por um raio de luz que progressivamente iluminou tudo em seu redor. Com dificuldade e aos poucos ,consegiu distiguir , por entre a imensa claridade, o Sinal da Cruz e a imagem de Cristo crucificado.
Emocionado, D. Afonso Henriques ajoelhou-se perante a voz do Senhor que nesse instante lhe prometeu a vitória naquela e em outras batalhas. Ao povo português reservava grandes desígnios e tarefas.
Por intermédio do rei e dos seus descendentes, Deus fundaria um império através do qual o Seu Nome seria levado às nações mais estranhas.
D. Afonso ainda a pensar no que lhe tinha acontecido regressou cheio de confiança ao acampamento .
No dia seguinte,os portugueses, em menor número mas contagiados pelo entusiasmo do seu rei, puseram os os mouros em fuga. perseguindo-os e matando-os.
Após tão milagrosa vitória, conforme reza a lenda, D. Afonso Henriques decidiu que a bandeira portuguesa passaria a ostentar cinco escudos ou quinas em cruz, representando os cinco reis vencidos e as cinco chagas de Cristo, carregadas com os trinta dinheiros de Judas.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Episódios

Episódios Presentes n'Os Lusíadas

Episódios Mitológicos:

Episódio Cavalheiresco:

Episódios Bélicos:

Episódios Líricos:

Episódios Naturalistas:

Episódios Simbólicos:

Canto I - Primeira reflexão do poeta

A fragilidade da vida humana

Este bem podia ser o título das duas últimas estrofes do canto I de Os Lusíadas.

A decisão proferida no consílio divino perturbou Baco e tudo fez para que a armada do Gama facassasse nos seus propósitos. Porém Venus, "afeiçoada à gente lusitana", esforça-se por levar avante a deliberação ollímpica.

As considerações de Camões no fim do canto, relativas ao esforço na guerra e o enfrentar dos perigos do mar largo e desconhecido, por parte dos nautas, acentuam a pequenez e fragilidade da vida humana, como se dependesse da divindade, da sorte e, essencialmente, do FADO para vingar.

O confronto com o desconhecido, o esforço e o sonho serão premiados. O eco destes versos finais do canto I pode observar-se na Mensagem: (...)valeu a pena?/tudo vale a pena se alma não é pequena."

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Teste

GRUPO I (100 pontos)

Leia, atentamente, o seguinte excerto de um conto de Mário Dionísio.

A primeira vez que a vira fora de noite, à saída dum baile. Já a conhecia, sim, mas nunca a vira. Tudo era medíocre, como sempre, naquele baile, com as mães e as tias sentadas a toda a volta da sala, na segunda fila de cadeiras, as filhas na primeira, os rapazes às portas, prontos para o assalto mal a orquestra recomeçasse, as mães vigiando, as tias vigiando, avaliando, impedindo ou estimulando os namoros possíveis, os casamentos prováveis. O objectivo dos rapazes não era precisamente o mesmo. Mas tinham de aceitar as regras do jogo se queriam chegar a tempo às peças mais cobiçadas, sobretudo nos tangos, dançados à media luz, quando a sala ficava repleta e toda a vigilância se tornava praticamente inviável.
No meio daquela gente alegremente entregue a esse jogo dissimulado de oferta e de procura, Augusto surpreendera, de súbito, o sorriso de Matilde, como quem estivesse a olhar por um binóculo uma paisagem sem interesse e descobrisse um pormenor inesperado com uma nitidez fascinante. Em volta, tudo continuara desfocado, os lustres, as cadeiras, as pessoas que mal conhecia e que eram a mãe de Matilde, as amigas de Matilde, as mães das amigas de Matilde. Dançaram uma vez quase no fim da noite. E falaram. De quê? Não interessava de quê. Só o tom, a descoberta, o alvoroço interior, interessavam. E desceram a escada juntos, um pouco atrás de Ana Soeiro e das amigas, que nessa altura só estavam realmente
preocupadas com arranjar um táxi. Atrás de Ana Soeiro e das amigas, degrau a degrau, demorando a separação. Atrás de qualquer coisa que nascia.
Era já madrugada. Os candeeiros apagavam-se nesse instante e do cimo dos prédios caíam molemente os primeiros bafos duma claridade ainda baça. As senhoras mandavam parar táxis, despediam-se. E a luz indecisa prendia-se nos cabelos, nos olhos, e no sorriso de Matilde. Tinha um lenço azulado ou esverdeado, transparente, em volta dos cabelos que se despenteavam à aragem da manhã próxima. Viu-a entrar no carro sem lhe dizer mais nada. E guardou para sempre, emoldurados pela janela de vidraça descida, esses cabelos que fugiam do lenço transparente, esses olhos na sombra, esse sorriso.
Mário Dionísio, «O Corte das Raízes», in O Dia Cinzento e Outros Contos,
Lisboa, Publicações Europa-América, 1978
Nota:
Ana Soeiro (l. 16 e 17): mãe de Matilde.

Apresente, de forma estruturada, as suas respostas ao questionário.

1. Indique dois dos motivos que levam o narrador a considerar que tudo naquele baile era «medíocre» (linha 2) e que o baile não passava de um «jogo dissimulado de oferta e de procura» (linha 9).

2. Reconstitua, com base no texto (linhas 9-15), as fases da aproximação entre Augusto e Matilde durante o baile.

3. A expressão «atrás de» surge repetida em três períodos do texto (linhas 16-18). Explicite dois dos valores expressivos produzidos por essa repetição.

4. Analise a relação de sentido que a dupla ocorrência da forma verbal «vira», nas linhas 1 e 2, estabelece com o último parágrafo.

5. Identifique o recurso estilístico e especifique a relação de sentido que a expressão “E uma luz indecisa prendia-se dos cabelos, nos olhos, e no sorriso de Matilde” estabelece entre a situação temporal e o ponto de vista do narrador.

6. Identifica pelo menos duas expressões temporais que ajudem a localizar a acção no tempo e que dêem nota da passagem do tempo.


GRUPO II (28 + 12 pontos

1. A glorificação do herói é um dos temas centrais da épica camoniana. Partindo da sua experiência de leitor de Os Lusíadas, redija um texto, entre 100 e 160 palavras, em que registe as suas impressões de leitura, quem se glorifica e o modo como se é glorificado.

2. Nesta questão, faça corresponder a cada uma das alíneas a coluna A a um elemento da coluna B, de modo a obter afirmações lógicas de acordo com o valor de cada expressão.

A                                                                                                  B

                                                                                          a) O enunciador exprime uma relação de causa

1 - Quando se faz referência a um autor,                                 b) O enunciador recorre à autoridade de ontrém como forma de argumentar
                                                                                                para confirmar a sua tese.
2 - Com o uso conjugado das expressões
      por um lado e mas, por outro lado,                           c) O enunciador explicita ideia de alternativa.

3 - Com o uso da expressão fica claro                              d) O enunciador intruduz um novo tema ou
     e para abreviar                                                                 uma variante do que disse anteriormente

4 - Com o uso da expressão há que tomar em
      conta também,                                                            e) O enunciador explicita uma objecção
       
                                                                                           f) O enunciador prepara-se para concluir


 GRUPO III – Composição  (60 pontos)

Num texto bem estruturado, com o mínimo de duzentas e um máximo de 260 palavras. apresente uma reflexão sobre a exploração do espaço expressa no excerto que se apresenta. Para fundamentar o seu ponto de vista, recorra a pelo menos dois argumentos, ilustrando cada um deles com um exemplo significativo.

Os voos espaciais, os projectos interplanetários - apesar do génio e do heroísmo que exigem - podem encobrir a incapacidade das grandes nações industriais de resolver os problemas humanos de desenvolvimento económico e social, porque grande número de recursos, de virtualidades quase infinitas, são negados e não são repartidos por todos e assim as grandes nações voam para longe da Terra.









domingo, 3 de outubro de 2010

Periodização Literária

A periodização literária oferece-nos a possibilidade de situarmos as obras no tempo. Permite também conhecer as correntes literárias e saber que o Barroco precede o Neoclassicismo; ao Modernismo segue-se o Surrealismo, etc...., ao fim e ao cabo um modo de nos situarmos no tempo.

Ao clicares em cada período remete para um sítio de autores mais representativos da corrente.

Literatura Medieval (Séc. XII a XV)

1º Período: dos Trovadores.2º Período: dos poetas Palacianos e Cronistas

Literatura Clássica (Séc. XVI a XVIII)

1º Período: Renascimento . Humanismo. Classicismo2º Período: Barroco3º Período: Neoclassicismo

Literatura Moderna (Séc. XIX)

1º Período: Romantismo2º Período: Do realismo ao Simbolismo

Literatura Contemporânea (Séc. XX e XXI)

Modernismo Neo-Realismo Surrealismo  Experimentalismo e poesia de 61 Concentrismo Existencialismo Realismo Histórico Séc. XXI

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A Dedicatória - do laudatório à exortação da guerra...!

     A dedicatória não era um elemento estrutural obrigatório do género épico, mas, genialmente, Camões decide dedicar o seu poema ao rei D. Sebastião, a quem louva e exorta pelo que representa para a independência de Portugal e para o aumento do mundo cristão; pela ilustre e cristianíssima ascendência e ainda pelo grandioso Império sempre banhado pelo sol.

     Ao louvor, segue-se o apelo. Referindo-se com modéstia à sua obra, que designa como “um pregão do ninho (...) paterno”, um grito popular, pede ao Rei que a leia. Na breve exposição que faz do assunto d’Os Lusíadas, o poeta evidencia um aspecto particularmente importante, a obra não versará heróis e factos lendários ou fantasiosos, como todas as epopeias anteriores, mas matéria histórica. Documenta-o com a apresentação de uma galeria de heróis nacionais que valoriza pelo confronto com os de outras epopeias.

     Termina o seu discurso incitando o Rei a dar continuidade aos feitos gloriosos dos portugueses, nomeadamente, combatendo os mouros, e renovando o pedido de que leia os seus versos.
     O discurso da Dedicatória organiza-se, pois, segundo esta lógica — louvor, exortação e argumentos que a fundamentem, incitamento/apelo de carácter nacional e, em jeito de conclusão, breve reforço do apelo pessoal.

     Há quem considere que esta parte do poema apresenta uma estrutura própria do género oratório: Um exórdio, que corresponde ao início do discurso (6 a 8); uma exposição ou corpo do discurso (9 a 11); uma confirmação, em que seriam apresentados exemplos e ou argumentos (12 a 14) e um epílogo ou conclusão (15 a 17). Veja-se ainda a utilização da segunda pessoa do plural (“vós”), do modo imperativo (“Ouvi”) e de numerosas apóstrofes (“ó bem nascida segurança” que também poderá ser considerada uma perífrase) e que são características da oratória.

    No exórdio (6), o poeta dirige-se a D. Sebastião declarando-o: o enviado providencial para assegurar a independência de Portugal, continuando a obra da dilatação da fé e do império. Note-se a forma como o vocativo «vós» se desdobra em rasgados elogios: D. Sebastião é-nos apresentado como defensor nato da liberdade da Nação, como o continuador da dilatação da Fé e do Império, como o Rei temido pelo Infiel, como o homem certo no tempo certo, «dado ao mundo por Deus». 

     Na exposição (10, 11), o poeta pede a D. Sebastião que ponha os olhos no poema que desinteressadamente fez e lhe dedica, no qual ele verá os grandes feitos dos portugueses, reais e não fingidos, maiores do que os narrados nas antigas epopeias, de tal forma que o jovem rei se poderia julgar mais feliz como rei de tal gente do que como rei do mundo todo (hipérbole) e mitificação do "peito ilustre lusitano"
     Note-se como o poeta desliga a glória de ser conhecido pela sua obra do «prémio vil», já que o moveu o «amor da pátria».
Veja-se a profusão de sinónimos para falsas proezas: vãs façanhas, fantásticas, fingidas, mentirosas, sonhadas, fabulosas. Tudo isto é suplantado pelas proezas «verdadeiras» dos Portugueses. Uma hipérbole que os últimos dois versos repetem, tendo em conta analogia entre os heróis clássicos e os portugueses.
O vocativo e o modo imperativo são as marcas mais notórias da função apelativa da linguagem: “E vós, ó bem nascida segurança...”, “ó novo temor da maura lança...” “Ouvi…” “Ouvi...”.
Os Lusíadas são fonte de glória não só para os heróis, mas também para o poeta altamente comprometido e implicado. Pode ver-se nos quatro primeiros versos da estrofe 10, em que o poeta afirma que foi levado a escrever o seu poema, não pelo desejo de um prémio vil (material), mas de um prémio alto e quase eterno. Esse prémio é a fama de grande poeta entre os portugueses (ser conhecido por um pregão do ninho meu paterno).

O poeta exalta D. Sebastião como rei-menino destinado pelo Fado, ou pela Providência, a grandes feitos, num império já imenso, mas que ele acrescentaria ainda, dilatando a fé e o império (“para do mundo a Deus dar parte grande”).

      O louvor de D. Sebastião está pois, em ser apresentado como um jovem-rei em que o povo português tudo espera, rei predestinado a retomar a grandeza dos feitos portugueses. A ideia do jovem-rei como salvador da pátria reflecte a crise em que a nação já se encontrava, mas ela estava lá tão arreigada no povo que não desapareceu da sua alma nem com o desaparecimento do rei. Nasce o sebastianismo e é precisamente isso: a imagem de um rei fatalmente destinado a ser salvador de uma nação em crise.
     Observe-se também o super-ego camoniano: sereis grande tanto quanto o meu canto for.

A Invocação

     Invocar significa apelar, pedir, suplicar. Deriva do verbo latino: uoco, uocas, vocare, vocaui, uocatum = chamar  (in+uocare)

     Na Invocação, Camões dirige-se às Tágides, as ninfas do Tejo, (neologismo recente) pedindo-lhes que o ajudem a cantar os feitos dos portugueses de uma forma sublime:

“Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,”

Tratando-se de um pedido, a Invocação assume a forma de discurso persuasivo, onde predomina a função apelativa da linguagem e as marcas características desse tipo de discurso – o vocativo e os verbos no modo imperativo - determinam a estrutura do texto:

E vós, Tágides minhas, (...)
Dai-me (...)
Dai-me (...)
Dai-me (...)


Note-se a estrutura anafórica e a apóstrofe:

Apóstrofe
Anáfora
A apóstrofe consiste na interpelação ou invocação de alguém ou de alguma coisa personificada, por meio de um vocativo.
Repara: para invocar as ninfas, Camões utiliza o vocativo.
O vocativo pode estar presente numa frase quando se pretende chamar ou invocar alguém, utilizando-se para isso um nome ou expressão equivalente. O vocativo na frase é móvel, pois pode surgir no princípio, no meio ou no fim, mas está destacado por vírgulas.
A Anáfora é uma figura de estilo que consiste em repetir a mesma palavra no princípio de várias frases ou versos.
A forma verbal “Dai-me” (modo imperativo) surge repetido três vezes no início do verso: trata-se da figura de estilo anáfora.
     O poeta pede às Tágides o estilo elevado que a epopeia e a grandiosidade do assunto requerem; o " som alto e sublimado ", exigido pelo " novo engenho ardente " que as ninfas colocaram nele. Como poeta experiente que é, sabe que a tarefa a que agora se propôs exige um estilo e uma linguagem de grau superior, por isso estabelece ao longo das duas estâncias um confronto entre a poesia lírica, há muito por ele cultivada, e a poesia épica, a que agora se abalança. É uma espécie de mini tratado da poética:

POESIA LÍRICA
POESIA ÉPICA
verso humilde
agreste avena
frauta ruda 
novo engenho ardente
som alto e sublimado
estilo grandíloco e corrente
fúria grande e sonorosa
tuba canora e belicosa
     Esse confronto serve-lhe para marcar a superioridade relativa da poesia épica sobre a lírica.

A Proposição - ou o (en)canto da celebração

     A Proposição é umas das partes da estrutura interna de Os Lusíadas e apresenta duas partes lógicas.

     Na primeira parte, composta pelas duas primeiras estrofes, o poeta enuncia o propósito da obra. O tom grandioso é dado pelo uso do verbo CANTAR, como se de um aedo grego se tratasse.

     Através do seu canto apresenta a galeria de heróis e os feitos que lhes deram esse estatuto: os barões assinalados, os navegadores que investiram pelos mares desconhecidos, dilataram as fronteiras da pátria até ao oriente, vencendo os obstáculos pela força e coragem maiores do que imaginadas para qualquer mortal: "mais do que prometia a força humana". Também o quadro de reis portugueses que se empenharam na dilatação da Fé e do Império. Ainda todos os outros homens que praticaram feitos dignos de memória (feitos valerosos) e que por isso se "vão da lei da morte libertando", isto é, fogem ao esquecimento, imortalizam-se através do canto.

     Na segunda parte, o poeta contrapõe os heróis da antiguidade, sempre singulares, com o herói da epopeia renascentista, um colectivo, o povo português, sintetizado na expressão feliz "peito ilustre lusitano".

"A mitificação do herói d'Os Lusíadas está patente no confronto com os heróis míticos da antiguidade, ofuscados pela grandeza dos senhores do Mar e da Guerra "a quem Neptuno e Marte obedeceram". (apud, Elisa C. Pinto, Vera Baptista, Paula Fonseca)
     Note-se ainda a presença de um EU profundamente empenhado, voz que cantará, exortará, lamentará..., que se fará ouvir ao longo de todo o poema, principalmente no fim dos cantos.